A estrutura é geralmente a causa do atrito na relação entre arquiteto e engenheiro estrutural. Um bom arquiteto, hoje em dia, deve ser um generalista, muito versado em distribuição de espaço, em técnicas de construção e sistemas elétricos e mecânicos, mas também deve entender bem de finanças, bens imobiliários, comportamento humano e conduta social. Ademais, é um artista, com direito a expressar seus dogmas estéticos. Deve conhecer tantas especialidades que, às vezes, ele não sabe quase nada a respeito de tudo.
O engenheiro, por outro lado, é , por treinamento e constituição mental, um individuo pragmático. É especializado em determinados aspectos específicos da engenharia e nesses aspectos apenas. Existem hoje não só engenheiros estruturais, como também engenheiros estruturais especializados tão-somente em projetos de concreto, ou apenas em projetos de cúpulas de concreto, ou até mesmo em projetos de cúpulas de concreto de um formato específico. Não é de admirar que o engenheiro é tido como um profissional que sabe tudo sobre nada!
As personalidades desses dois profissionais tendem a entrar em choque. Feliz é o cliente cujo arquiteto entende de estrutura e cujo engenheiro estrutural é um apreciador da estrutura da arquitetura. Em última análise, o arquiteto é o líder da equipe de construção e sobre ele recai a responsabilidade e a glória do projeto. Os engenheiros são seus empregados. Uma das suas principais constatações é que, de acordo com o provérbio, um engenheiro é um tolo que pode fazer por um tostão o que qualquer outro tolo fazeria por dois.
Por que os edifícios ficam de pé
Mario Salvadori
Ed. Martins Fontes, 2006