segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O estilo

Uma frase francesa muito conhecida diz que "le style, c'est l'homme". Segundo esta definição, o estilo seria, pois, aquilo em que se revela a personalidade do sujeito que se manifestaria, assim, na maneira de se exprimir, no jeito da frase etc. Von Rumohr, ao contrário, afirma (Italienische Forschangen)  que a palavra estilo significa 'uma adaptação, que se torna um hábito, às exigências internas da matéria em que o escultor esculpe as estátuas, com que o pintor compõe as suas formas', e formula, a propósito, observações extremamente importantes sobre os modos de execução que certos materiais, utilizados pela escultura, permitem ou impedem. No entanto, não se deve limitar a palavra estilo apenas a este elemento sensível e antes se pode alargá-la às determinações e leis da representação artística próprias da natureza da arte a que pertence o objeto representado. É assim que, na música, por exemplo, se distingue a música sacra da música de ópera etc. O estilo refere-se, pois, a um modo de execução que toma em conta as condições dos materiais empregados, bem como às exigências de concepção e execução de cada arte e às leis que provêm do próprio conceito da coisa. Empregando a palavra no seu sentido mais amplo, dir-se-á que a ausência de estilo será resultado ou da impotência em que o artista se encontre de se familiarizar com um tal modo de representação necessário em si, ou de uma arbitrariedade subjetiva que, em vez de obedecer às leis, dá livre curso ao capricho e acaba por adotar uma maneira inferior. Von Rumohr tem, pois, razão quando diz que se não devem alargar as leis do estilo de uma certa arte às outras artes, como o fez, por exemplo, Mengs na célebre A Assembleia das Musas, da vila Albani, em que 'concebeu e executou as formas coloridas de Apolo aplicando-lhe um princípio que pertence à escultura'. Com o mesmo deparamos nos quadros de Dürer: tão bem ele dominava o estilo da gravura em madeira que até o empregava nos seus quadros, especialmente na pintura das rugas.

G.W.F.Hegel
O Belo Artístico ou o Ideal
Ed. Nova Cultural