Quem investigar arquitetonicamente o templo grego, buscando, sobretudo, uma concepção espacial, fugirá horrorizado, assinalando-o ameaçadoramente como exemplar típico de não-arquitetura. Mas quem se aproxima do Partenon e o admira como uma grande escultura fica encantado como só acontece diante de pouquíssimas obras do gênio humano. Já vimos que todo arquiteto deve ser um pouco um escultor para poder transmitir, através do tratamento plástico do invólucro mural e dos elementos decorativos, o prolongamento do tema espacial; mas o mito que faz de Fídias, mais do que de Ictino e Calícrates, o idealizador do Partenon parece simbolizar o caráter meramente escultórico das construções religiosas gregas, através de sete séculos de desenvolvimento.
Os elementos constitutivos do templo grego são, como é sabido, uma plataforma elevada, uma série de colunas apoiadas sobre ela e um entablamento contínuo que sustenta o teto. É verdade que existe também uma cela que no período arcaico constituiu o único núcleo construtivo do templo, e por isso um espaço interior, mas ele nunca foi pensado, do ponto de vista criativo, porque não respondia a funções e interesses sociais: foi um espaço não encerrado, mas literalmente fechado, e o espaço interior fechado é precisamente característica da escultura. O templo grego não era concebido como a casa dos fiéis, mas como a morada impenetrável dos deuses. Os ritos realizavam-se do lado de fora, ao redor do templo, e toda a atenção e o amor dos escultores-arquitetos foram dedicados a transformar as colunas em sublimes obras-primas plásticas e a cobrir de magníficos baixos-relevos lineares e figurativos as traves, os frontões e as paredes. Uma vez que essa problemática psicológica do íntimo que constituirá a força motriz da pregação cristã e que teve a sua primeira manifestação arquitetônica nos obscuros silêncios das catacumbas estava longe do pensamento grego, a civilização grega se exprimiu ao ar livre, fora dos espaços interiores e das habitações humanas, fora mesmo dos templos divinos, nos recintos sagrados, nas acrópoles, nos teatros descobertos. A história da arquitetura das acrópoles é essencialmente uma história urbanística, triunfa pela humanidade das suas proporções e da sua escala, pelas insuperadas joias de escultórea graça repousada e repousante, ajustada na sua abstração, esquecida de todos os problemas sociais, autônoma em seu fascínio contemplativo e impregnada de uma dignidade espiritual não mais alcançada.
Toda a arquitetura responde a um programa construtivo e, nas épocas ecléticas, quando falta uma inspiração original, os arquitetos vão buscar nas formas do passado os temas que servem, funcional ou simbolicamente, para as usas construções. Ora, a que temas responderam os neogrecismos do século XIX? A nenhum tema essencialmente arquitetônico: desde a Coluna de Nelson, que se ergue na Trafalgar Square, ao Lincol Memorial de Washington, desde a fachada do British Museum a todos os raquíticos pórticos compostos de pequenas colunas e pequenos frontões gregos, produzidos em massa para as casinhas burguesas da América e Europa, recorreu-se à arquitetura helênica apenas nos grandes temas monumentais e nos elementos decorativos, em problemas de superfície plástica e volumétrica, nunca de arquitetura. E, geralmente, feitas algumas exceções neoclássicas, as repetições e as cópias espalhadas por todo o mundo constituem tristes mascaramentos de invólucros murais que encerram espaços interiores e conservam, por isso, todas as características negativas da arquitetura grega carecendo, porém, ao mesmo tempo, da qualidade de escala humana que os monumentos originais possuíam.
Podemos notar mais este fato: no templo grego, o homem caminha apenas no peristilo, isto é, no corredor que vai da colunata à parede exterior da cela. Ora, quando os templos gregos alcançam as margens da Sicília e da Itália meridional, os peristilo se tornam mais espaçosos e profundos. Isto talvez seja um índice de que os italianos já tinham uma tendência para sentir, acentuar os espaços, e tentaram ampliar e humanizar as fórmulas fechadas da herança helênica.
Saber ver a Arquitetura
Bruno Zevi
Ed.Marins Fontes, São Paulo, 1996