segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Existe uma ciência do Design?

Plano de Educação
[...] a criação artística haure sua vida da tensão que surge constantemente do efeito recípocro entre as forças conscientes e inconscientes de nossa existência. Este conhecimento tornou-se para mim um fio de prumo em questões de educação artística. Pois como o intuitivo-inconsciente se revela em cada um de nós sob forma indívidual e singular, toda tentativa de um educador de projetar suas próprias percepções sensoriais em seus alunos é inútil. Leva apenas à imitação dependente. O ensino efetivo deve ser construído com base em fatos objetivos, acessíveis a todos nós do mesmo modo. Mas o estudo da visão que nos ensina a diferenciar o que é real do que é ilusão, exige uma vitalidade e uma espontaneidade espirituais que têm de permanecer imutáveis em face do amontoado arbitrário de fragmentos desconexos de saber. Santo Tomás de Aquino, o grande místico da Idade Média, disse certa vez: 'Devo esvaziar minha alma para que Deus possa entrar'. Esse estado de vácuo espiritual prepara para a concepção criativa, para a Graça. Mas o atual predomínio do saber livresco não favorece por certo semelhante estado. A tarefa inicial do educador deveria consistir em livrar o aluno do entorpecimento intelectual e em encorajá-lo a dar mais expansão à sua sensação inconsciente. Ele deve, por assim dizer, tentar reconstituir o estado de receptividade despreconcebida da criança e então guiá-lo; destruir o que ainda há de preconceitos e reincidências nas propensões imitativas, para que o aluno possa alcançar, por meio de observação própria e tentativas práticas, o conhecimento de uma regularidade objetiva da expressão.

Se o design deve ser uma linguagem visual específica para a transmissão de sensações inconscientes, o conhecimento dos fatos objetivos no terreno da escala, forma e cor, assim como o domínio da gramática da composição, constituem seus pressupostos indispensáveis. Só então pode o artista levar a sua mensagem à expressão por meios manifestos, que unem mais as pessoas do que palavras. Quanto mais essa linguagem óptica se espalhar, tanto melhor será compreendida a obra de arte. A arte surge da graça da súbita idéia pessoal. Ela não é ensinável. O ensinável consistem em demonstrar a influência que luz, espaço, proporção, forma e cor exercem sobre a psique humana; expressões vagas como ' a atmosfera de uma construção' ou ' a comodidade de uma sala' deveriam ser especificadas. Todo principiante precisa aprender primeiro a ver. Precisa conhecer o efeito das ilusões ópticas da influência psicológica de formas, cores e texturas, de contrastes e de direção, tensão e repouso; e precisa compreender o significado daquilo que chamamos escala humana.

Walter Gropius
Bauhaus: Nova Arquitetura
Ed. Perspectiva