terça-feira, 12 de julho de 2011

Novas orientações de pesquisa

As experimentações poéticas e as propostas de intervenções estéticas que ocorreram, entrecruzadas e superpostas, nos últimos vinte anos, concordam num ponto: o que quer que possa ou deva fazer o artista, o que ele não pode nem deve absolutamente fazer é produzir obras de arte no sentido tradicional do termo, isto é, objectos aos quais se sobreponha um valor excedente e que, por conseguinte, sejam fruiveis apenas por uma elite cuja riqueza e, portanto, cuja capacidade de poder assim aumentem. Numa sociedade de consumo, que mercantiliza tudo, a única coisa que pode fazer um técnico de imagens, desde que queira preservar a autonomia de sua disciplina, é produzir imagens que não sejam mercantilizáveis e subtraiam-se aos circuitos normais de consumo. Assim como deve romper qualquer relação com o mercado. Isso não significa romper as relações com a sociedade, mas apenas recusar-se a crer que a existência da sociedade se identifica com a função tecnológica industrial. É fácil dizer que a pesquisa estética deve ser autônoma; a autonomia não pode ser isolamento. É evidente que a autonomia de uma disciplina consiste no compromisso de praticá-la no interesse de toda sociedade, e não de grupos restritos de poder. Assim como a pesquisa científica, a pesquisa estética deve ser autônoma e utilizada; é preciso que a sociedade utilize-a enquanto disciplina autônoma, pois, do contrário, se fosse instrumentalizada, seria pior do que inútil.

Fonte: G.C. Argan, Arte Moderna p561