Carta aberta
A arte contemporânea é vazia,
não porque os artistas não tenham capacidade de criar novos
significados, mas porque inconscientemente sabem que o produto do
conhecimento dos pensadores sempre serviu de solução para as crises dos
sistemas, que, não tendo capacidade de resolver sua situação política,
se utilizaram da conceituação criada pelos intelectuais e artistas.
Assim como, no passado, os bárbaros, ao tomarem de assalto o início de
uma civilização, chamavam os monges para criarem um alfabeto a fim de
legitimar seu poder e dominar a língua local, que tinha que se refugiar
no dialeto. O alfabeto é o instrumento mais cruel de domínio que o homem
já criou, assim como a desconstrução criada pela vanguarda contribuiu
para o esvaziamento do pensamento de nosso tempo. Graças à
inconsistência da arte contemporânea, o Estado mais empresarial entra em
contradição, ao estatizar suas maiores empresas. O importante para a
história hoje é uma leitura do inconsciente dos fatos, numa busca da
independência do simbólico, sendo atingido pelo subliminar do
conceitual. Um exemplo dessa importância veio do uso da bomba atômica,
que interrompeu o fluxo da história da guerra, que teve que continuar
com o nome de “Guerra Fria” até que se atingisse a maturação natural do
conflito mundial. Foi justamente a Primeira Guerra Mundial que deu uma
universalização à psicologia; e a segunda, à psicanálise.
A arte abstrata tende a apagar
os vestígios de autoria na proporção inversa em que as instalações têm
necessidade de deixar o rastro de um registro.
(Wlademir Dias-Pino, julho de 2009)