terça-feira, 23 de julho de 2013

Clássicismo e Romantismo: Pintura e Artes Gráficas

O mais impetuoso paladino da pintura moderna, Francisco Goya y Lucientes (1746-1828) ainda pertence ao período da 'Tempestade e Ímpeto'. A revolução inspira as oitenta folhas de suas idéias os Caprichos, bem como os Desastres de la Guerra.Os retratos de Carlos IV, que nomeou Goya pintor da côrte, bem como os da família real, acham-se saturados de uma assombrosa verdade, que rompe todas as cadeias da etiqueta. Na concepção de luz e cor de Goya aprendeu muita coisa de Velasques e na técnica da gravura de Tiepolo. Muito mais do que um filho do passado, porém, foi ele, lutador de grande feitio, o homem nascido para o futuro. A agitação espiritual daquele tempo, tal como se manifesta também nas figuras de um Johann Heinrich Füssli (1741-1825), estava mais tarde a tornar-se fecunda para arte.

De início classicismo era o triunfo. Depois do teórico Meng e passando por fases prévias como as representadas por Tischbein ou por Salomon Gesner, o gentil poeta de Zurique, Asmus Jacob Carstens realizou na Alemanha a transição para o classicismo rigoroso. Resoluto, desfez-se para sempre das cores, entregando-se inteiramente aos 'nobres contornos'. Com seu exagero propositado teve Carstens influência fecunda, não através de seus fiéis seguidores, mas graças a natural contradição que despertou em pintores inatos, como Gottlied Schick ou Philipp Otto Runge, nos quais provocou novos feitos.

Pouco importa que se chame ao primeiro um classicista e ao segundo um romântico; importante é que, juntamente com talento como os pintores classicistas de paisagens Joseph Anton Koch (1768-1839) ou Gaspar David Friedrich (1774-1840), em expressão calma e singela, captaram em seus quadros vida mais autêntica e mais cálida do que o conseguiu o grupo romântico apaixonado dos 'Nazarenos' que em Roma, com 'coração vibrante e arrepios sagrados', se reuniram em monte Pincio, formando uma comunidade artística religiosa. Friedrich Overbeck (1789 a 1869) e Peter von Cornelius são os nomes mais notáveis desse círculo, que ainda pertence à História. Alfred Rethel (1816-1859), Ludwing Richter (1803-1884), Moritz von Schwind (1804-1871) e Karl Spitzweg (1808-1885) penetraram muito mais profundamente no coração de seu povo.

Rethel já aos vinte e quatro anos se libertara da influência nazarena, da escola de Düsseldorf e de uma pintura de afrescos históricos chegou à gravura em madeira. Desde os dias de Holbein ninguém mais descrevera a morte -- quer seja nas folhas avulsas onde ela aparece com carrasco ou como amigo, ou na série da Dança da Morte -- de modo tão emocionante e incisivo. Rathel, cuja arte continuava orientada em sentido histórico, também na técnica com plena consciência ao passado; mostra-o uma comparação entre as xilografias, onde se observa com assombro, o que, por volta de meados do século XIX, era possível existir lado a lado. Também Richter ficou aquém do livre traçado de Menzel, mas muito diferente de Rethel, desenhou ele em linhas simples suas paisagens e figuras com grande realismo.

Oscilando entre humorismo e graça conduziu Richter de mansinho o tardio romantismo ao Realismo que, por volta do meio do século, com um banho de curativo, deveria revigorar a arte e conquistar-lhe a vida moderna. Com o reconhecimento da própria personalidade, também começa aí a melhoria. Friederich von Schlegel, chefe espiritual do romantismo literario, reconhecera que a graça atuava em sentido concêntrico ao passo que o humorismo o fazia em sentido centrifugal. O bom humor, a risada concilatória que surge quando se medem as coisas finitas deste mundo com escalas infinitas, era o meio através do qual os românticos encontravam o caminho de volta ao seu século. Já para Ritcher o prazer máximo consistia em atar o vôo da fantasia a um sólido texto literário, como ilustrador; Schwind e Spitzweg, porém, tornaram-se pintores-poetas, criadores de um gênero próprio, amplamente libertados da história. Scwind herdara de seus pais de um lado o desleixo e a despreocupação dos austríacos e do outro a meticulosidade sábia e por isso pintava seus quadros em público, com alegria e afã, Spitzweg, porém, filho de Munique, amigo de seu 'régio sossêgo bávaro', encerrou-se em si mesmo. Criou ele assim suas deliciosas miniaturas, para as quais lhe pareciam suficientemente boas as tampas de caixas de charutos. Quando, ocasionalmente se dignava a dar à publicidade algum trabalho para a revista Fliegende Blätter, surgida naquele tempo, o resultado era desenhos executados com mau humor e contra a vontade.

Na França a evolução decorreu quase igual à da Alemanha. Jacques Louis David (1748-1825), contemporâneo de Carsten, foi o princípal classicista e professor com extenso campo de ação. O maior de seus discípulos veio a ser Jean-Auguste Dominique Ingres. Em muitas de suas obras percebe-se nitidamente, nas linhas que se apagam nos limites da luz e da sombra, a atuação conjunta da concepção artística classicista e romântica. Ao observador atual, que de maior distância aprendeu a ver mais pura a arte clássica, o movimento sob a superfície lisa parece com frequência ser uma interação que o indispõe sem justa razão. Em Eugene Delacroix (1798-1863) o romantismo celebrou com ímpeto sua entrada. Este grande colorista renunciou logo de inicio à composição desenhada e baseou suas obras únicamente no efeito da cor. Ecoara ali, embora ainda em surdina, uma nota que soava exatamente como o futuro impressionismo. Eram mais rápidos os passos com que a arte avançava no berço da revolução; sanhudo e sem a leve simpatia de Spitzweg, Honoré Daumier eternizou a pequena burguesia e elevou a litografia ao nível de verdadeira arte. Como derradeira ramificação do romantismo francês pode-se citar Gustave Doré. Nos trabalhos deste artista frequentemente nada mais resta do romantismo senão um fantasma zombeteiro.

Quanto à arte inglesa dessa época basta mencioná-la por alto; no início achava-se o suíço Johann Heinrich Füssli, e o Irlandês Willian Blake ((1757-1827) tanto no bom sentido como no mau apenas o imita, exagerando. Os 'pré-rafaelitas', porém, por intermédio do escocês William Dyce (1806-1864), achavam-se em ligação direta com os nazarenos, que em muitos sentidos com eles tinham certa afinidade.

História Antiga e Medieval
José J. de A. Arruda