De início classicismo era o triunfo. Depois do teórico Meng e passando por fases prévias como as representadas por Tischbein ou por Salomon Gesner, o gentil poeta de Zurique, Asmus Jacob Carstens realizou na Alemanha a transição para o classicismo rigoroso. Resoluto, desfez-se para sempre das cores, entregando-se inteiramente aos 'nobres contornos'. Com seu exagero propositado teve Carstens influência fecunda, não através de seus fiéis seguidores, mas graças a natural contradição que despertou em pintores inatos, como Gottlied Schick ou Philipp Otto Runge, nos quais provocou novos feitos.
Pouco importa que se chame ao primeiro um classicista e ao segundo um romântico; importante é que, juntamente com talento como os pintores classicistas de paisagens Joseph Anton Koch (1768-1839) ou Gaspar David Friedrich (1774-1840), em expressão calma e singela, captaram em seus quadros vida mais autêntica e mais cálida do que o conseguiu o grupo romântico apaixonado dos 'Nazarenos' que em Roma, com 'coração vibrante e arrepios sagrados', se reuniram em monte Pincio, formando uma comunidade artística religiosa. Friedrich Overbeck (1789 a 1869) e Peter von Cornelius são os nomes mais notáveis desse círculo, que ainda pertence à História. Alfred Rethel (1816-1859), Ludwing Richter (1803-1884), Moritz von Schwind (1804-1871) e Karl Spitzweg (1808-1885) penetraram muito mais profundamente no coração de seu povo.
Rethel já aos vinte e quatro anos se libertara da influência nazarena, da escola de Düsseldorf e de uma pintura de afrescos históricos chegou à gravura em madeira. Desde os dias de Holbein ninguém mais descrevera a morte -- quer seja nas folhas avulsas onde ela aparece com carrasco ou como amigo, ou na série da Dança da Morte -- de modo tão emocionante e incisivo. Rathel, cuja arte continuava orientada em sentido histórico, também na técnica com plena consciência ao passado; mostra-o uma comparação entre as xilografias, onde se observa com assombro, o que, por volta de meados do século XIX, era possível existir lado a lado. Também Richter ficou aquém do livre traçado de Menzel, mas muito diferente de Rethel, desenhou ele em linhas simples suas paisagens e figuras com grande realismo.
Oscilando entre humorismo e graça conduziu Richter de mansinho o tardio romantismo ao Realismo que, por volta do meio do século, com um banho de curativo, deveria revigorar a arte e conquistar-lhe a vida moderna. Com o reconhecimento da própria personalidade, também começa aí a melhoria. Friederich von Schlegel, chefe espiritual do romantismo literario, reconhecera que a graça atuava em sentido concêntrico ao passo que o humorismo o fazia em sentido centrifugal. O bom humor, a risada concilatória que surge quando se medem as coisas finitas deste mundo com escalas infinitas, era o meio através do qual os românticos encontravam o caminho de volta ao seu século. Já para Ritcher o prazer máximo consistia em atar o vôo da fantasia a um sólido texto literário, como ilustrador; Schwind e Spitzweg, porém, tornaram-se pintores-poetas, criadores de um gênero próprio, amplamente libertados da história. Scwind herdara de seus pais de um lado o desleixo e a despreocupação dos austríacos e do outro a meticulosidade sábia e por isso pintava seus quadros em público, com alegria e afã, Spitzweg, porém, filho de Munique, amigo de seu 'régio sossêgo bávaro', encerrou-se em si mesmo. Criou ele assim suas deliciosas miniaturas, para as quais lhe pareciam suficientemente boas as tampas de caixas de charutos. Quando, ocasionalmente se dignava a dar à publicidade algum trabalho para a revista Fliegende Blätter, surgida naquele tempo, o resultado era desenhos executados com mau humor e contra a vontade.
Na França a evolução decorreu quase igual à da Alemanha. Jacques Louis David (1748-1825), contemporâneo de Carsten, foi o princípal classicista e professor com extenso campo de ação. O maior de seus discípulos veio a ser Jean-Auguste Dominique Ingres. Em muitas de suas obras percebe-se nitidamente, nas linhas que se apagam nos limites da luz e da sombra, a atuação conjunta da concepção artística classicista e romântica. Ao observador atual, que de maior distância aprendeu a ver mais pura a arte clássica, o movimento sob a superfície lisa parece com frequência ser uma interação que o indispõe sem justa razão. Em Eugene Delacroix (1798-1863) o romantismo celebrou com ímpeto sua entrada. Este grande colorista renunciou logo de inicio à composição desenhada e baseou suas obras únicamente no efeito da cor. Ecoara ali, embora ainda em surdina, uma nota que soava exatamente como o futuro impressionismo. Eram mais rápidos os passos com que a arte avançava no berço da revolução; sanhudo e sem a leve simpatia de Spitzweg, Honoré Daumier eternizou a pequena burguesia e elevou a litografia ao nível de verdadeira arte. Como derradeira ramificação do romantismo francês pode-se citar Gustave Doré. Nos trabalhos deste artista frequentemente nada mais resta do romantismo senão um fantasma zombeteiro.
Quanto à arte inglesa dessa época basta mencioná-la por alto; no início achava-se o suíço Johann Heinrich Füssli, e o Irlandês Willian Blake ((1757-1827) tanto no bom sentido como no mau apenas o imita, exagerando. Os 'pré-rafaelitas', porém, por intermédio do escocês William Dyce (1806-1864), achavam-se em ligação direta com os nazarenos, que em muitos sentidos com eles tinham certa afinidade.
História Antiga e Medieval
José J. de A. Arruda