Embora represente técnicas diferentes, a gravura e a pintura foram intimamente integradas pelos artistas gravettianos e magdalenianos. Eles se desenvolveram juntos e produziram formas de expressão muito semelhantes. Parece que quando faziam uma gravação pela primeira vez, suas linhas entalhadas eram sempre pintadas depois. Muitas vezes davam uma mão de tinta na superfície de uma parede, depois da qual faziam a gravação. O efeito era salientar a gravação contrastando-a com o fundo pintado.
As gravações e pinturas dos primeiros gravettianos não passavam de contornos rudes e compactos. As pinturas gravettianas posteriores tornaram-se representações mais precisas e no Magdaleniano Inferior e Médio a arte da composição, do contorno e o uso da policromia chegou à perfeição.
A escultura não mostra uma tendência tão progressiva uma vez que a maioria dos exemplos conhecidos revela uma técnica razoavelmente boa, em qualquer parte. A escultura mural foi a gravação em paredes e desenvolvida para produzir tipos de medalhão de baixo e alto-relevo. Mas o melhor trabalho foi feito na escultura em osso de armações de veados, e em marfim e em artigos como cabos de punhal e lançadores de dardo em forma de animal e pássaros. O exemplo mais famoso de modelagem plástica é um grupo familiar de um bisão, uma vaca e um bezerro da caverna de Tuc d'Audubert.
A arte produzida pelos indivíduos do Paleolítico Superior lança muita luz sobre suas crenças e mentalidade. Se uma arte já refletiu o espírito de sua cultura, foi esta. Tem trocas de opiniões diversas entre os antropólogos utilitaristas e os que insistem em que a arte deve ser avaliada como um fim em si. Os estetas sustentaram que ela manifesta o gênio criativo e artístico essencial de seus produtores. os antropólogos insistiram no utilitarismo simbólico da arte, porque veem as funções culturais da arte como mais significativas do que apenas os aspectos estéticos.
A arte do Paleolítico Superior tinha a grande finalidade de encher os estômagos dos seres humanos e de manter a população, servindo como uma ajuda mágica na caça e na procriação. Dava também expressão a um sentimento profundo de identidade entre a humanidade e seu universo. Mas, além de ser um meio para estes fins, ela era também um meio em si mesma. Os artistas do Paleolítico Superior produziram não somente imagens, mas lindas imagens. Eles não somente se esforçavam para produzir representações magicamente eficazes das finalidades de seus desejos, mas também desenvolviam a habilidade artística pelo prazer intrínseco que a arte proporcionava. Quanto à estrutura, o artista do Paleolítico Superior merece ser chamado "o Paleolítico Grego", e em virtude das pinturas desta tradição não constitui hipérbole chamar a caverna de Lascaux de "a Capela Sistina da Idade Glacial".
É provável, contudo, que as finalidades mágicas nunca saíram da mente dos artistas paleolíticos. Isto é de modo especial evidente tratando-se de sua arte mural, a qual raramente é encontrada onde pode ser facilmente vista. Os artistas do Paleolítico Superior não adornaram as paredes de suas casas ou a entrada de uma caverna. Pelo contrário, seus trabalhos de arte são encontrados em profundidade nas entranhas da terra, nas cavernas escuras e misteriosas onde os artistas trabalhavam ao clarão incerto e fumacento de uma lâmpada de pedra. Ali os artistas do Paleolítico Superior desenhavam seus animais: um mamute lanoso, o cavalo e o cabrito montês — muitos dos quais, de há muito extintos na Europa. Repetidas vezes pintavam cicatrizes que pingavam sangue. Frequentemente mostravam objetos pontudos furando a carne animal e em alguns casos fluxos de sangue vermelho são pintados descendo das narinas e da boca. Cenas diagramáticas de covas cobertas com troncos, dentro das quais os mamutes estão caindo, foram encontradas em locais como a caverna de Font de Gaume. Todas estas expressões de realismo são atos de realização de uma vontade por meio da magia compulsiva e mimética.
Alguma magia pode ser de muita utilidade. Isto é particularmente verdade quanto à magia da fertilidade. Os gravettianos tinham uma predileção especial por estatuetas de mulheres grávidas, das quais a Vênus de Willlendorf é a mais famosa. As partes do seu tronco que se dilatam com a gravidez são representadas com visível exagero e cada linha é virtualmente o segmento de um círculo perfeito: a apoteose da curva feminina. O rosto, os braços, as pernas e os pés são ignorados. O artista, a compôs com um interesse seletivo. O detalhe do cabelo mostra que o penteado tinha significação social, e provavelmente de culto, há 20.000 anos, e que o cabeleireiro existiu como "artista" muito antes da nossa era. Não podemos saber se as estatuetas encantadoras que só tinham de cinco a quinze centímetros de altura eram talismãs que deveriam ser levados pela mulher que desejava o filho ou se eram adoradas pelos homens e mulheres como ídolos da deusa-mãe. Parece possível que representavam o culto desta deusa, porque nas Idades Mesolítica e Neolítica, que se seguiram, não se tem dúvida da importância da adoração da deusa-mãe no Oriente Médio.
Podemos concluir dizendo que a arte do Paleolítico Superior da Europa e do Norte da África foi uma arte vividamente representativa — uma arte de carne, sangue e esperança — uma arte funcional que ajudou na sobrevivência, uma arte que foi usada entusiasticamente por um povo de caçadores numa idade glacial como a expressão simbólica dos seus principais interesses.
Antropologia Social e Cultural
E. Adamson Hoebel e Everett L. Frost
Ed. Cultrix