A paisagem que nos cerca é uma grande composição que consiste de trechos de espaço livre e de corpos que o limitam. Tais corpos podem ser prédios, pontes, árvores ou colinas. Toda configuração visível, seja ela natural ou construída pela mão humana, conta no efeito do conjunto dessa grande composição. Mesmo a mais despretensiosa construção utilitária, uma estrada ou uma ponte, é importante para a harmonia do efeito visual do conjunto. E quem mais senão o arquiteto ou urbanista está destinado a ser o guardião responsável pos nosso mais precioso patrimônio, a nossa paisagem natural, cuja beleza e harmonia é fonte de inspiração e satisfação para a alma? Na pressa e burburinho em que deixamos tanger a nossa vida, o que precisamos com mais urgência é uma fonte onipresente de regeneração e esta só pode provir da própria natureza. Sob as árvores, o homem da cidade pode esquecer seus cuidados e entregar-se à bênção de uma pausa recriadora.
O arquiteto ou urbanista, digno desse nome, deve dispor de visão e fantasia a fim de chegar a uma verdadeira síntese para a cidade do futuro cuja concretização eu gostaria de chamar 'arquitetura total'. Para alcançar semelhante altitude de trabalho, é mister que tenha a paixão do amante e a boa vontade respeitosa de cooperar com outrem. Pois, por mais notável que seja, ele não pode levar a cabo sozinho esta tarefa. A unidade da expressão arquitetonica regional, que todos nós tanto desejamos, dependerá, em grande escala, na minha opinião, do desenvolvimento do trabalho criativo do grupo.
Depois que cessou por fim nossa caça doentia aos 'estilos', nossos hábitos e princípios começam a tomar feições uniformes, que refletem a verdadeira essência do século XX. Começamos a conceber que o design de nosso mundo-ambiente não depende da aplicação de uma série de fórmulas estéticas, preestabelecidas, e sim de um processo contínuo de crescimento interior, que recria constantemente a verdade ao serviço da humanidade.
Walter Gropius
Bauhaus: Nova Arquitetura
Ed. Perspectiva