terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A arquitetura orgânica

A arquitetura demonstrou que uma padronização mecânica rigorosa não deve ser um impedimento a uma liberdade de expressão pessoal até maior do que se tinha revelado no passado. Por "expressão pessoal" queremos dizer o resultado de uma personalidade autêntica e não uma forma estéril — o clichê — ou um gosto derivado de idiossincrasias. As descobertas devidas ao acaso não são necessariamente a Carta Magna da nova liberdade que o arquiteto — por disciplina interior — pode obter graças à máquina com o fim de ensinar ao próprio povo não mais a reconstruir de modo tolo, mas a construir o novo que supera o velho; a construir uma nação que seja ela mesma mais parecida com uma grande vida orgânica; a mostrar agora como proceder na vida orgânica universal. Com a máquina, sim, aos próprios serviços, mas somente nos limites e propósitos humanos. Através desses novos meios, o artificie avança para construir edifícios muito mais inerentes à vida, para homens e mulheres destinados a viver em uma cidade mais natural do que qualquer outra do mundo ocidental: essa é a arquitetura orgânica e essa é a Broadacre City.

Embora a maior parte dos nossos cidadãos ignore, essa cidade mais natural é importa a todos nós por circunstâncias congênitas. Essa cidade está em andamento sobre o mesmo solo em que estamos; imposta por circunstâncias que somos incapazes de reconhecer como fatores de vanguarda da descentralização. Esses fatores estão se tornando tão banais aos nossos olhos que não conseguimos apreendê-los. Por que então não nos deixar controlar pelo inevitável — com a nossa existência qualificada pela aprendizagem do comando profético do desenho orgânico?

Só os interesses míopes que continuam a pulular nas nossas cidades poderiam negas que essas sobrevivências do século 19 do nosso novo Renascimento tenham se tornado dispendiosas demais. No que diz respeito à distribuição e aos transportes, são um impedimento muito grave na produção e um peso terrível para os pais e filhos a qualquer aspiração a uma vida familiar. Na democracia, a família é a norma. Na família estão contidas as próprias sementes da cultura que é inerente, portanto orgânica, essa arquitetura do século 20, está com um atraso de mais de meio século nas nossas cidades.

Um desperdício de tempo e energia como o desastroso sobe e desce devido ao arranha-céu já não é um sintoma de sucesso urbano, mas de excesso. Deixem livre o terreno bom, à disposição de homens dignos e para usos humanos. Quanto aos pobres, subsidiem os transportes que se ligam ao campo, modifiquem os termos da propriedade a fim de que cada um tenha um incentivo ao trabalho e aprenda a fazer bom uso dos instrumentos humanos de trabalho em condições apropriadas. Tudo isso é necessário para que a nova cidade descentralizada se estenda e se reforce e para que o cidadão seja livre. Do contrário, nenhuma cidade será forte ou livre, e seremos condenados a uma existência sempre menos direta e mais deformada.

Qual é então o conceito fundamental para a alteração orgânica agora essencial ao desenvolvimento do homem, da mulher e dos filhos — a família — e da Democracia?

Lloyd Wright, F., The living city, Horizont Press, NY, 1958
Folha Grandes Arquitetos, 2011